terça-feira, dezembro 27, 2005

SÍNDROMA DE ABSTINÊNCIA

A vida é tão diferente quando se depende de um modem a 28.8 KB!
Sim, isso ainda existe, é arcaico, mas existe, pelo menos aqui no sítio para onde vim passar o Natal...

Recuar de uma ligação ADSL para um modem destes, é como regressar a um tempo de que já nos esquecemos, áquele outro tempo em que não havia nem fotocópias, nem televisão, nem telemóveis, nem aquecimento central, nem Centros Comerciais, nem ecografias e TACs, nem máquinas de calcular, nem antibióticos, nem multibanco, nem máquinas automáticas para vender coisas, nem MP3, ... nem... nem...
Sim, nós já fomos capazes de viver dessa maneira. Mas conseguimos hoje conceber a vida sem essas "modormias"? Tudo isso surgiu há tão pouco tempo mas parece que já foi há tanto... O tempo, já o diziamos, passa depressa, mas a tecnologia parece que o faz passar ainda mais depressa!
Voltar a depender de um modem a 28.8KB é como pôr o pé no travão e regressar a uma velocidade de vida mais reduzida. É voltar a sentir as sensações dum mundo antigo, dum passado perdido, é como que um retorno ao Portugal rural de há muitas décadas, ao andar sobre estradas romanas dentro duma carroça puxada por bois, às viagens de camionete Porto-Bragança que demoravam 7 horas (quando as coisas corriam bem...), às chamadas telefónicas que "caíam" sucessivas vezes, ao precisar de dinheiro num sábado e o banco só abrir na segunda, etc, etc, etc. Ah! E aos serões de familiares, que aconteciam por falta de televisão, de consolas de jogos, de Centros Comerciais e coisas que tais.

E face a essa experiência, percebo melhor como a tecnologia nos transforma enquanto seres humanos, por exemplo criando-nos novas dependências (a urgência de tudo, a pressa em tudo) que transportamos connosco para os outros lados da nossa vida. E que conflitos isso depois nos traz...
Que raiva pareço sentir ao assistir à eternidade com que estes bits demoram a sair e a entrar no meu PC. Só me apetece dar uns Xutos & Pontapés no modem e pôr-me a cantar:

As saudades que eu já tenho
Da minha alegre casinha
Tão modesta quanto eu.
Meu Deus como é bom morar
Num modesto primeiro andar
com ligação de Banda Larga à Internet.

Ah! Que saudades da minha casa em Santarém...